domingo, 8 de novembro de 2009
Quando meu primeiro namoro terminou, eu confesso que sofri por meses. Aquele estúpido sorriso amarelo e o clichê mais ridículo que já existiu acabaram comigo. “Olha, eu não te mereço.” Pro inferno com essa desculpa, por mais verdadeira que fosse. Passei muito tempo em companhia do sofrimento de fim de relacionamento, tanto tempo que eu não via a hora de ele ir embora pra nunca mais voltar. Até que um dia, o sofrimento de fim de relacionamento deciciu ir embora. Fez as malas, se despediu dizendo que tinha sido pro meu bem, e foi-se. Aliviada, eu desejei nunca mais vê-lo. Morria de medo só de pensar em terminar outro relacionamento (motivo pelo qual demorei tanto tempo a entrar em outro), morria de medo de ter que suportar toda a dor e o vazio de novo. Se desapegar de alguém dava trabalho demais e causava dor demais, sofrimento demais. Tudo que eu não queria de novo.

Até que um dia, decidi arriscar. O chão parecia firme, parecia destino, parecia que era pra ser. E eu fui. Deixei a cautela de lado, os medos e os traumas pra trás, e fui. Até que quase dois anos depois, chegou ao fim. De uma forma tao estúpida quanto a primeira. Quem é que diabos consegue terminar um namoro de tanto tempo assim, com duas frases pela internet, com uma frieza indescritível? Certamente não alguém que tem um coração batendo e sangue de verdade pulsando nas veias. Covardia, eu pensei.

Mas esse, não era problema meu. Eu estava naquele estado de choque em que não se sente absolutamente nada, sabendo que dali a pouco tempo eu reencontraria meu velho conhecido: o sofrimento de fim de relacionamento. E eu, que não queria isso por nada, teria que encarar. Sozinha, longe da família, longe dos amigos, num país estranho há pouco mais de dois meses. Gelei, o medo me invadiu por completa. Daí, uma coisinha escondida sabe lá aonde, deu as caras. Provavelmente cansada de tanto blablabla de medo, a coragem apareceu. E de fato, sair de mala e cuia de casa, encarar o desconhecido em um país estranho, sozinha, aos 21 anos, requer muita coragem. E coragem, meu bem, não é tao fácil de se encontrar por aí. Sorte a minha ter entrado tres vezes na fila.

Então eu encarei o medo. Entendi que o sofrimento pelo fim de relacionamento era inevitável e não me restava nenhuma opção a nao ser encará-lo. Se com apoio dos amigos, colo da mae e abraço forte de pai já é difícil, imagina ter que encarar sozinha! Pavor. Aí quem deu as caras foi o orgulho. Fez uma careta e mandou parar com a choradeira. É verdade que seria difícil, mas o essencial era eu mesma. Reencontrei cada partezinha de mim e me preparei para encarar o maldito sofrimento. Se era inevitável, eu iria encarar. Sem truques, sem atalhos, sem usar ninguém como escudo ou amenizador. O negócio era no mano-a-mano.

E assim eu esperei ele chegar. Assim que o choque passou, o sofrimento chegou, sem bater, sem fazer barulho. E ficou surpreso com o que viu. Certamente não esperava encontrar uma mulher impecável, maquiada, bem vestida, unhas feitas, sorriso no rosto e salto alto. Eu o cumprimentei e o convidei a entrar.

- O negócio é que não tenho tempo pra ti, dessa vez. Estou descobrindo um mundo novo, começando uma vida neste lugar, e simplesmente não quero desperdiçar meu tempo. Então vamos resolver de uma vez. Pode vir com tudo que tiver, que aqui a fibra é das mais fortes que se tem por aí. Sem trapaças, sem atalhos, sem voltas, sem usar ninguém. Cartas na mesa, jogo limpo. é um contra um, senhor sofrimento.

Então, ele puxou uma cadeira e tomamos um café. Passamos o dia colocando o papo em dia, afinal eram anos sem nos vermos. Já estava escurecendo, quando ele levantou e se despediu. Disse que não ficaria, mas que tinha apreciado a conversa. Diante da minha surpresa, deu um sorriso amarelo e se foi pelo mesmo lugar que entrou.

Não levei muito tempo para compreender. Ah...o maldito sorriso amarelo. O clichê mais velho e estúpido do mundo. O carma.

Dessa vez, eu não o merecia. E ambos concordávamos.

Marcadores:

posted by Deborah Luisa at 00:44 |

0 Comments: